Os Livros da Minha Vida por Miguel Chaiça

Hoje, em mais um Os Livros da Minha Vida, vamos conhecer os livros da vida de Miguel Chaiça, do blog nlivros. Preparados?

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Honestamente não me recordo quando o bichinho dos livros me atacou. Pese embora o meu pai sempre tenha lido e coleccionado uma biblioteca que, quando eu era criança achava imponente, mas que agora está a anos luz da minha (em termos quantitativos, claro), o que me recordo é que ninguém me incentivou verdadeiramente para a leitura como eu tenho feito com os meus filhos, ninguém me leu histórias ao deitar, por isso penso que foi algo que nasceu comigo, sobretudo porque tenho um espírito inquieto e penso que foi essa inquietude que me levou a buscar nos livros informação que eu procurava.

Como assim, perguntam vocês.

Porque, tirando as aventuras dos Cinco, que li de “fio a pavio” com 10, 12 anos, foram os livros de mistérios da Humanidade (civilizações, História, Ovnis, fantasmas, etc) que marcaram verdadeiramente a minha entrada no mundo da literatura.

A partir daí, recordo-me, na fase de adolescente, adorar ler livros de História e achar que era tempo perdido ler romances, pois lia porque tinha ânsia de saber, até que tudo mudou quando me deparei com obras como o “Conde de Monte Cristo”, “Os três Mosqueteiros”, “As aventuras de Sherlock Holmes” e o portentoso “Miseráveis”. E porque é que os li? Porque um professor de português, sabendo da minha opinião jocosa sobre os romances, indicou-me várias obras assentes em factos Históricos dizendo-me algo que nunca mais me esqueci: “Um romance é sempre baseado em vivências de quem o escreve ou em factos históricos do passado” e foi isso o catalisador de me ter lançado na leitura de obras de ficção.

Daí para cá, e já lá vão alguns anos, li centenas, talvez milhares de livros. Dezenas de clássicos, sempre com um espírito inquieto e, simultaneamente que me ia deslumbrando com livros que ia lendo, outros foram desgostando, não pela sua má qualidade, mas por constatar que a essência do Ser Humano é pérfida, mas isso são outras considerações.

Falar de livros da Minha Vida não é por isso uma tarefa simples e fácil. Obviamente que tenho sempre uns cinco livros que menciono quando me fazem a pergunta sacramental: Qual é o teu Top 5? Porém, sinto sempre que deixei de parte livros soberbos que em nada são inferiores aos que menciono, porém vou citar cinco dos livros que me marcaram.

Wook.pt - Guerra e Paz - Livro IAté à data, o livro que mais me empolgou e aquele que considero ser o Melhor Romance alguma vez escrito é: Guerra e Paz” de Tolstoi. É um livro difícil e que não deve ser lido de forma ligeira, merecendo sim uma vasta análise em todas as suas facetas. O que ressalta logo é a vasta e extensa análise à sociedade russa que Tolstoi efectua, bem como as reflexões sobre personagens que marcaram a História da Europa. São páginas e páginas de intensa informação Histórica, social e psicológica que torna esta obra uma das joias da literatura universal e que deve ocupar um lugar cimeiro no desejo de leitura para qualquer leitor.

 

Wook.pt - Os Maias

O segundo livro que menciono sempre é:Os Maias” de “nosso” Eça de Queiróz. Costumo dizer que se Eça tivesse sido inglês ou francês, era considerado um dos maiores escritores de sempre. Pessoalmente considero-o como tal, pois a sua portentosa veia irónica e mordaz como teceu considerações à sua sociedade e que curiosamente continuam tão actuais. Quem não conhece, experimente ler qualquer livro de Eça e vai ficar surpreendido com a actualidade da sua crítica. Os Maias é um dos melhores romances alguma vez escrito, um fresco poderoso e divertido da sociedade lisboeta do final do século XIX. Um dos factores que mais me impressiona no romance é a forma viva como Eça sugere, descrevendo locais de forma tão realista que, mesmo de olhos abertos, conseguimo-lo ver a sair do livro.

 

Wook.pt - Servidão HumanaA terceira obra é Servidão Humana” de Somerset Maugham. Mais um livro que li e reli por diversas vezes e que me continua a fascinar. O livro segue o percurso de um enjeitado que se torna médico e que faz da sua paixão por uma mulher pérfida o seu objectivo de vida, e é nesse percurso amoroso que Maugham desenvolve uma perspicaz e viva análise do Ser Humano e no quanta dor consegue empregar nos outros. Para além disso aborda a questão da fé e das crenças, mostrando o quão ridícula e exageradas elas podem ser.

 

Wook.pt - Crime e CastigoO quarto livro, Crime e Castigo” de Fiodor Dostoievski. Outro livro que não é muito fácil de se ler mas que quanto nos emaranhamos no seu enredo, tudo se torna fluído. O autor descreve de uma forma sublime todo o processo psíquico do remorso, entregando-nos a nós, leitores, a escolha se o protagonista é culpado ou inocente. Sentimo-nos como num tribunal, onde as provas, sob os pensamentos de Raskolnikov e as acções de outros personagens, nos são jogadas de enxurrada mas ausentes de qualquer conclusão. Foi talvez o único livro que me deixou inquieto e cansado face à batalha psicológica que o autor consegue criar

 

Wook.pt - Ensaio sobre a CegueiraPor último, o melhor romance de José Saramago é um dos maiores romances de todos os tempos que, daqui a cem anos, vai ser tão actual como o é hoje em dia ou quando foi escrito: Ensaio Sobre a Cegueira”. Para o caracterizar deixo uma frase de José Leon Machado que caracteriza na perfeição o romance: “O livro marca de tal forma o leitor que difícil será para este livrar-se da visão e do cheiro de tanta miséria e de tanta merda que, no fundo, caracterizam este mundo. Mundo que, para não a ver e para não a cheirar, constrói tapumes de cartão e espalha perfumes à volta“.

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